quem é zegeraldo


JAGUAR,  ZÉ  GERALDO e MILLÔR FERNANDES
O Zé Geraldo foi corredor de automóveis, boxer – conheceu o jiu-jitsu
“enfrentando” Hélio Gracie – radialista, jornalista, desenhista, pintor, professor, escritor, pensador e pesquisador. Natural  de Petrópolis, Rio de Janeiro, nasceu em 1924. Aos 15 anos, ele e o Millôr Fernandes começaram a trabalhar na Empresa Gráfica o Cruzeiro de Assis Chateaubriand. Lá, com o poeta Lúcio Cardoso o Zé fundou a revista O Guri, e, na EBAL de Adolfo Aizen, popularizou clássicos de autores brasileiros. Seus livros contaram com os prefácios de Barbosa Lima Sobrinho, Nélida Pinon, Rachel Jardim, Pina Bastos, Augusto da Silva Telles, e Henrique Miranda. Sem escrever desde 1981, quando a Editora VOZES lançou seu  Bye, Bye, Amazônia, que escrito no início dos anos 70 nada teve há ver com o filme Bye, Bye, Brasil de 1979, sequer com seu primo o cineasta Luiz Carlos Barreto. Seu último livro foi Apresado para nada, com prefácio de Millôr Fernandes e “orelhas” do Ziraldo – que reclama que quando menino o Zé sequer olhou seu desenho. Jura o autor, que na época ele era ruim, e que jamais poderia supor que, no gênero, Ziraldo viria a ser o melhor do mundo. Desenhista, jornalista, produtor cultural, ficcionista e empresário, embora o julguem um ativista partidário, o Zé sempre foi um irrecuperável anarquista. Hercules Xavier – pesquisador, tecnico em informática.

RECO-RECO, BOLÃO E AZEITONA
Em 1933, ainda menino, publicando seus primeiros quadrinhos na revistinha Tico-Tico, o Zé estreou muito mal. Numa época onde não havia TV, foram os  importados  filmes em série americanos a inspiração para ele “plantar” um “cowboy” no meio de personagens “caboclos” como Zé Macaco e Faustina, Reco-Reco Bolão e Azeitona, a exceção de Chiquinho e Jagunço, quadrinhos do americano Octclat, único importado num Tico-Tico aonde atuavam grandes desenhistas como Luiz Sá e Uyantok. Depois de prejudicar a preciosa revistinha, Zé Geraldo se redimiu. Na Empresa Gráfica O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand, com o poeta Lúcio Cardoso lançou a revistinha Guri, com os primeiros quadrinhos nacionais coloridos.
GURI
Foi quando a Empresa Gráfica O Cruzeiro também aderiu aos quadrinhos, que aos 15 anos  o  Zé encontrou o Millôr Fernandes e o Péricles, e criou o personagem Zânzio para a revistinha que ia sair. Nome esquisito, tirado da placa de anúncio de cirurgião dentista, que transformado em herói do Brasil colônia nos quadrinhos, acabou num seriado do programa Silvia Autuory da Rádio Tupi. Na época, o excelente Arcindo Madeira veio de Portugal para desenhar Os Lusíadas de Camões para o GURI, e, além do Zânzio, o garoto Zé Geraldo quadrinizou Y-Juca-Pirama de Gonçalves Dias.  O Péricles estreou com os quadrinhos OLIVEIRA TRAPALHÃO, e, mais tarde, com o seu AMIGO DA ONÇA no O CRUZEIRO, iria se tornar o maior responsável por sua astronômica tiragem. Pena que depois dos anos 50 a revista GURI tenha se desfigurado.
Vida JUVENIL do Antônio Haddad
Casado aos 18 anos, em plena 2ª Guerra Mundial, o Zé Geraldo foi para a cidade de São Paulo bancar o empresário, mas deu com os “burros n’água”, e voltou para o Rio. Foi correndo procurar o editor Antônio Haddad, da  então famosa revista Vida Doméstica, que havia lançado duas revistas: VIDA INFANTIL com o excelente desenhista Joselito, e VIDA JUVENIL que ficou com o Zé. Foram obras primorosas, que contaram com a colaboração do professor Paula Barros, Carlos Cavaco, Lígia Fagundes, Lazinha Luiz Carlos, e Malba Than.

MÁRIO e ARMANDO PACHECO
Foi no departamento de arte da Wintrop do Brasil que o Zé Geraldo conheceu o grande desenhista Mário Pacheco.  Seu trabalho era com ele modificar progressivamente o “layout” do rótulo do sabonete LEVER, que por uma questão de “royalties”, até então não podia usar o nome LUX no Brasil. Era um trabalho árduo, mas eles ainda arranjavam tempo para desenhar os quadrinhos diários do pingüim do Ponto Frio para o jornal O Globo. Foi com o Mário e seu irmão, pintor Armando Pacheco, que o Zé embrenhava-se na mata da tijuca pra buscar motivação e pintar quadro a óleo. Quando em Paris, o Zé pintou uma série de retratos da modelo Norma Thamar,  bancando o marchante, com eles o cineasta Abel Gance promoveu uma concorrida mostra. Mas o contato do Zé com a paleta durou pouco. Empolgado com o pictográfic do  Abel Gance, invenção que iria revolucionar montagem de cenário de filmes – numa época em que sequer se sonhava com computação gráfica – o Zé “empresário” se associou ao ator Lex Barker (o Tarzan da vez) que estava em Paris, para que juntos levassem a novidade para Hollywood. Mas o “homem macaco” teve que  terminar filmagens na selva, e o negócio pifou. O Zé Geraldo voltou só para Nova Iorque.
O cineasta ABEL GANCE

LEX  BARKER “Tarzan”.
LEX BARKER e LANA TURNER
QUADRINHOS do MILTON CANIFF
TERRY e os PIRATAS

Foi por acaso, na Rua 45 em Nova Iorque, que o Zé encontrou o famoso desenhista Milton Caniff. Um engraxate colara ”tiras” originais de seus quarinhos atrás de sua cadeira de trabalho.  No Brasil da época, e no mundo, a história Terry e os piratas do Caniff fazia sucesso.  Quando conversaram, resmungando pro colega brasileiro, ele confessou que durante a Segunda Guerra Mundial  fora precionado para criar Steve Canion, um personagem engajado nas forças armadas americanas.
Por incrível coincidência, foi também na Rua 45, no PICADILLY HOTEL, que durante uma convenção o Zé Geraldo conheceu seu xará Al Capp (Alfred Gerald), que no sobrenome ostentava também Chaplin. No Brasil, país que o desenhista visitou, seu famoso personagem LIU ABNER era conhecido como FERDINANDO. Nos Estados Unidos seus quadrinhos eram tão importantes que regiam até calendário.  Gerald perdera uma perna num acidente, era avesso à guerra, e me confidenciou que os SHMOO dos seus quadrinhos foram considerados personagens símbolos do socialismo pelo CMAA, órgão da censura do macartísmo. Foi Capp que, com lápis na mão, rabiscando, conscientizou o jovem Zé sobre o que realmente representava a política imperialista do seu país…
CHARLIE CHAN e seu filho nº1
Em 1950, em Nova Iorque, o Zé Geraldo conheceu Mister Byk da distribuidora King Features, dona dos “Flash Gordon” e dos “Mandrakes”. Mas, enquanto o exímio desenhista Fernando Dias da Silva chegava aos ESTATES para substituir Alex Raymond, “pai” do Flash Gordon, seu colega Zé de lá voltava para o Rio de Janeiro “trazendo na bagagem” o detetive CHARLIE CHAN, então famoso nos quadrinhos e no cinema. Ele continuou escrevendo e desenhando quadrinhos do personagem para a revista editada pela Empresa Gráfica O Cruzeiro, mas “abrasileirou” o chinês,  o “mudou para o Rio”, e o envolveu com a bandidagem carioca. Enquanto isso, da capital paulista, anonimamente, quem desenhava para os estúdios da Disney era nosso competente e discreto desenhista Shinamoto.
JORNAL DOS ESPORTES “O cor de rosa”.

Assim era chamado o que foi o vibrante jornal do Mário Filho, “coqueluche” dos desportistas cariocas. Irmão mais velho do Nelson Rodrigues, foi ele o grande responsável pela construção do Estádio Mário Filho, que chamam de Maracanã. Para ele Zé Geraldo escreveu e ilustrou em quadrinhos a História do Box, desde a época da luta com os punhos nus no século XVIII, onde o pugilista inglês James Fig foi o grande campeão. Na mesma época o Zé também fez um gibi da história do jiu-jitsu no Brasil, contando de Carlos Gracie e sua fabulosa família.
Autrógrafo de Reila pra Zé.
 
Em 2008 Reila Gracie lançou um admirável livro sobre seu pai Carlos, patriarca criador de uma dinastia de grandes lutadores. Obra de vulto, que em qualquer país  que preze seu patrimônio seria  um “best-seller”. Entretanto, embora o Zé Geraldo tenha sido um dos mais de 100 entrevistados pela amiga Reila, numa história rica em acontecimentos extraordinários alguma coisa ficou de fora. Erroneamente, a modalidade de luta internacionalmente denominada  jiu-jítsu brasileiro, que embasbacou japonês, e revolucionou o nível de competição em luta de ring, corretamente deveria se  chamar jiu-jítsu Gracie do Brasil.
Pai do jiu-jítsu brasileiro.

Foi na década de 50 que o Zé conheceu Carlos Gracie. Trabalhava no jornal Última Hora, quando o boxeador George Mehdi veio da França procurá-lo, e ele o encaminhou para a famosa academia Gracie. Quando Carlos e Hélio Gracie organizaram um grande espetáculo pugilístico em benefício dos flagelados da seca no Nordeste, o Zé e seu amigo Paulo Amaral – policial que foi instrutor da seleção brasileira de futebol – se inscreveram para enfrentar alunos dos Gracie. Mas no dia da inscrição dos lutadores na ABI o Paulo foi impedido de lutar pela sua corporação. O Carlos então argumentou que parte da imprensa transformara o evento numa guerra, e, como jornalista amigo, o Zé Geraldo também devia desistir. Mas  ele argumentou que, sem motivo, ficaria mal abandonar um espetáculo beneficente. Mas o Carlos insistiu. Diante da imprensa e dos presentes, disse admirar a habilidade  do Zé, e que, em vez de enfrentar um aluno da academia, em outra ocasião seu irmão Hélio lutaria com ele dentro das regras do Boxe. E assim foi. No dia seguinte lá estava o Zé na academia Gracie com fotógrafo e tudo.  Confiando nos treinos que fizera com o pesado George Mehdi, o campioníssimo Hélio acabou atordoado por uma direita do Zé com luva de oito onças. Quando “enfrentou”  o Héio, o rapazinho Carlson Gracie – que depois sucedeu o Hélio – assistiu a tudo fascinado. No dia seguinte Zé o levou para a academia de boxe do Armando Regazzi (vulgo Armandinho), que funcionava clandestinamente no fundo da sua casa da Rua  Rainha Elizabeth, em Copacabana. O antigo pugilista treinava os lutadores do programa da TV RIO RING,  e era o instrutor do “societ” carioca. Com sua noção de distância e habilidade, não foi preciso muito para que o então menino Carlson Gracie se tornasse um boxer tão eficiente quanto era imbatível no jiu-jítsu. 55 lutas invícto.
O “MENINO” CARLSON

RICKSON

RÓRION

O grande campeão Hélio -pai de ambos – que alavancou o jiu-jitsu GRACIE pelo mundo.

Zegeraldo na época em que "enfrentou" Hélio Gracie

* O GLOBO


Foi nas lides automobilísticas que Zé Geraldo conheceu o discreto Arthur de Souza Costa, filho de ministro de Vargas e marido da Emilinha Borba – então no auge de sua vitoriosa carreira. Roberto Marinho ia lançar a história da cantora em quadrinhos desenhados e escritos pelo Zé em seu jornal, mas um desentendimento entre ambos fez com que o desenhista e a estrela lançassem por conta própria uma revistinha chamada ESTRELÍSSIMA. Mas ela foi um fracasso…

* COLEÇÂO DE AVENTURAS


Num momento em que as bancas de jornais estavam lotadas de quadrinhos importados de “super-heróis” americanos ostentando seu poderio bélico no Vietnam e mundo afora, o editor Illo Lund pediu que o  Zé  socorresse  sua série de revistas em quadrinhos que contava a odisséia dos nossos pracinhas na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Ele sabia que podia contar com o amigo, mas foi uma luta árdua, que consumiu quase todo patrimônio da dupla. Tentaram de tudo. O Zé foi procurar Assis Chateaubriand em sua Casa Amarela em São Paulo com uma carta do ministro da guerra Henrique Lot, autorizando os remanescentes do Regimento Sampaio a participar de um evento na TV Tupi. Já conhecendo o jornalista, carinhosamente  Chateaubriand perguntou pela sua mãozinha atrofiada, mas rasgou a carta do general e a botou na cesta de lixo. QUE MANCADA… Mas política é assim mesmo. No tempo em que ainda não havia recursos tecnológicos e os programas de TV eram ao vivo, foi na TV Excelcior, no antigo Cassino Atlântico, hoje Hotel Soffitel de Copacabana, que finalmente o Zé conseguiu fazer desfilar os remanescentes do Regimento Sampaio, com bandeira e tudo. Mas os quadrinhos dos pracinhas continuaram sobrando nas bancas, o exercito não  adquiriu parte deles pra leitura sadia dos seus recrutas, e Coleção de Aventuras acabou.

*Pracinhas voltando

* ÚLTIMA HORA

Foi Baby Bocaiúva Cunha, que em 1962 levou Zé Geraldo para participar do sucesso que o jornal de Samuel Wainer alcançou logo no seu lançamento. Entusiasmado com o arrojo do patrão – que revolucionou a imprensa brasileira – com ele argumentou que numa primeira página charge valia tanto quanto manchete, e pediu-lhe que registrasse como jornalistas todos os desenhistas do  jornal. Mas, tudo ficou como estava, e  em sua carteira profissional o Zé continuou constando como redator. Desencantado, ele nunca se sindicalizou. Para Última Hora adaptou em quadrinhos Os Grandes Romances Brasileiros, os famosos Crimes que Abalaram o Rio, e, com Paulo Rodrigues – irmão caçula do NelsonA Infância dos Craques, do futebol daquela época. Foi em 1960,  antes do Samuel Wainer perder seu jornal e morrer na década de 80 como simples redator da Folha de São Paulo, que Zé Geraldo criou o ZÉ  CANDANGO para o Jornal do Brasil , uma sátira dos “Super-mans” que era magistralmente ilustrada por Canini. Mas seus últimos quadrinhos foram o do ZÉ PICARETA –  gozação da política carioca em 1982, diariamente publicada numa Última Hora decadente, que durou pouco…

*MANCHETE

Ainda adolescente Zé Geraldo era vizinho dos Bloch na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, aonde foi colega da Dina e da Tâmara no Colégio Mallet Soares da Dona Estefânia. No início da década de 80 o bem apessoado colunista social “Jeff Thomas” – destacada figura do “societ” carioca – lembrou ao Adolfo Bloch da  ”competência” do Zé, e  foi em sua residência   do editor em  Teresópolis que  o empresário  lhe deu espaço  para uma matéria semanal  na revista Fatos e Fotos. A primeira  teria sido a do cantor Agnaldo Timóteo, então deputado federal pelo PDT do Brizola, único do partido a se eleger pelo próprio prestígio.  Mas o Zé  teve que concluir às pressas a história do Índio Juruna,  na época  o assunto badalado.  A foto da capa da revista seria dele, mas a inusitada morte do Garrincha a substituiu.  O Zé  ficou surpreso, quando sem ser consultado, anexaram  em sua matéria  uma introdução  descabida.  A tacharam de relato, e nela embutiram um Box e uma parceira.   Aquela foi sua primeira e última matéria em FATOS e FOTOS,  que teria sido aceita  graças ao  destaque do Juruna. Fato é,  que devendo favores ao presidente Figueiredo – recebeu dele seis canais de TV de presente –, quando soube da estreita ligação do Zé com o Brizola,  Adolfo o afastou da sua empresa.

Capa substituida pela morte do GARRINCHA, que teria sido do JURUNA

Zé Geraldo e Juruna, primeira das 6 páginas da matéria.

TROMBADINHA

“Tira” de uma série desenhada pelo Zé, quando tentou voltar à profissão. Mas  o apoio  recebido do “renegado” Brizola já havia liquidado com a CETPA, e um mercado editorial embutido na ditadura acabou de vez com sua profissão de desenhista. Quando procurou seu amigo Bernardo Costa Campos, diretor do Jornal do Brasil com seus “quadrinhos”, ele preferiu lhe arranjar trabalho no PONTO FRIO.

Apesar de ser reservista de terceira categoria, o  Zé foi tachado de sargento e perseguido como membro da rebeldia dos sargentos. Custaram a identifica-lo como mero desenhista. Vinte anos depois da ditadura, no dia 10/09/84, uma matéria paga no jornal O globo insistia no equívoco:

Texto: “Em princípio de outubro de 1983, (…)o deputado federal Leonel Brizola se reuniu com diversos sargentos em um apartamento no Leme, na residência do atual assessor do governador, sargento José Geraldo, das 12hs até às 14.00hs, sargento esse, que tinha, como característica, um defeito no dedo, bem como outros sargentos e ativistas civis como:JOSÉ SÁ ROIZ (Exército), ANTÔNIO MARQUES TOMÁS (Marinha), JOÃO FERREIRA SILVA (Aeronáutica) e os líderes JOSÉ SERRA (estudantil) – “hoje liderança do PSDB” -, ARUEIRA (do pacto de Unidade e Ação, PUA) Deputado Estadual BATISTINHA (ferroviário) e o conhecido Padre ALÍPIO DE FREITAS (Ligas camponesas)”. Apesar dos ataques dos beleguins da ditadura, ali estavam reunidos intelectuais, estudantes, sargentos e alguns seus superiores democratas, que procuravam uma maneira constitucional para evitar o golpe das elites civis e militares  contra as reformas de base e o poder constituido – já tentado antes, e consumado meses depois.

Zé Geraldo deixa claro seu posicionamento político partidário: nenhum. Anarquista ao seu modo, bateu palmas quando ainda menino leu a afirmação do russo Bakunin: “Que quem lhe desse uma ordem seria considerado inimigo“. Seu amigo Millôr Fernandes escreveu que, assim como ele, o Zé passava um cetissismo – recomendando jamais confundir com pessimismo -.  No entanto, otimismo é pra barriga cheia.  Quando em 1950, “bem acompanhado”, deixava  um restaurante em Lisboa , preso como comunista pelos beleguins da ditadura de Salazar o Zé foi malhar os ossos na Cadeia do Aljube. Foi sua primeira experiência com grades. No liberal governo João Goulart a prisão política do padre Alípio foi tida como única.

Padre Alípio de Freitas

Mas, no seu livro A Guerra dos Gibis, o jornalista Gonçalo Junior conta com detalhes mais duas inusitadas do Zé Geraldo, feitas pelo próprio presidente.  Uma quarta experiência com grades foi com as do consulado do Uruguai e seu portão trancado,  a quinta no quartel do Méyer, e a sexta na Fortaleza de São joão, no bairro da Urca. Antes de tentar se exilar no consulado Uruguaio no Rio de Janeiro, o Zé tinha ido homiziar-se no apartamento da irmã, na Praia do Leme –  bairro sem saida – com os jornalistas Maia Neto (diretor da Rádio Mayrink Veiga) e Josué Guimarães (diretor na Agência Nacional do Jango).  Foi uma babaquisse, mas o deputado Tenório Cavalcante e a turma do seu jornal Luta Democrática conseguiu de lá resgatar o Maia e o Josué. O Zé não confiou no “homem da metralhadora”. Preferiu se esconder num prédio ao  lado,  ”lugar seguro”, no apartamento do banqueiro do bicho vulgo ZEZITO, casado com uma amiga gaúcha. No entanto, escoltado pelo Tenório o Maia ainda conseguiu abrigo no consulado uruguaio, e o Josué se mandou para São Paulo. Confinado no “protegido” apartamento do “banqueiro”, o Zé soube que a polícia do exército invadira seu apartamento com truculência, revirando tudo  e  assustando suas crianças. Só não encontraram nada contra o dono da casa graças ao Reylson Gracie, que pegou toda papelada “comprometedora” do amigo e a enterrou na areia da praia da Barra da Tijuca.

Quando o Zé tentou se exilar no consulado do Uruguai, seu portão já não estava aberto pra foragido. Mesmo assim, com a ajuda do seu advogado José Levental e do líder trabalhista Batistinha, conseguiu botar pra dentro do prédio os 130 kilos do economista Paulo Shilling, que o lépido Batistinha acompanhou. Quando o Zé tentou segui-los, atiraram de dentro do consulado, apareceu a polícia, e ele só se safou graças à coragem e a habilidade do seu advogado José Levental que o conduziu de volta pelo arriscado trajeto que haviam feito. Depois do tiroteio no portão do consulado o Zé perambulou pelo interior do Estado do Rio. Percorreu cidadezinhas como Trajano de MoraesSanta Maria Madalena da Dercy Gonçalves“, lugar, onde tendo sua carreira na magistratura interrompida pela ditadura Vargas, seu pai Mário Dias havia sido promotor público.  Seu filho foragido acabou parando na serra de Teresópolis.  Se apaixonou pela Ângela, prima do amigo Ziraldo, rompeu o antigo casamento, e, temerariamente, a “arrastou” consigo numa tumultuada e acidentada viagem que quase acabou em tragédia. Alheia aos atos “subversívos” do companheiro, foi a bela Ângela e  um Mustang importado que camuflavam o ”renegado”, até que em Porto Alegre  o identificaram,  e seu carro estacionado foi  propositadamente abalroado por um “Camburão” da polícia. O casal estava na casa do Walter Freitas, figura importante, amigo insuspeito,  mas só conseguiu cruzar a fronteira do Chui graças aos amigos Hamilton Chaves – ex-assessor do Brizola – e o compositor Lupicínio Rodrigues, que os “encaixaram” num ônibus lotado de ciclistas uruguaios que retornavam de São Paulo. Mas, aconteceu, que já em território uruguaio, o coletivo rolou ribanceira abaixo, houve mortes, e Zé e Ângela foram parar num hospital em Motevideo,  onde ficaram de quarentema por 30 dias. Ele  levava  socorro para a sobrevivência dos companheiros Maia Neto e Paulo Schilling, mas Che Guevara acabara de ser morto, e sua intenção era encontrar Brizola na Praia de Atlântida. Ingenuamente achava que o líder gaúcho tinha condições de continuar a luta do argentino,  e, quando se encontraram,  falou sobre os companheiros do Araguaia. Mas, bem humorado, o “doutor Leonel” não quiz saber de guerrilha. Exaltou a beleza da Ângela e elogiou o bom gosto do Zé: – ”Tu te renovaste”. Apontou pra biblioteca, disse que estava estudando muito, e, sobre Guevara, declarou friamente: – “Não tenho vocação para mártir”. O casal pegou um ônibus de volta pro Brasil – novamente atravessou a fronteira do Chuí sem problemas – e voltou pra Teresópolis. Perguntaram ao Zé Geraldo porque sendo amigo dos fundadores do Pasquim, nunca lá botou o pé. Ele respondeu que podia provocar risos, mas nunca foi humorista. Se valente fosse, e acreditasse que revolução marxista iria resolver o problema da ditadura militar e acabar com o capitalismo, terria ido se juntar aos companheiros no Araguaia. O Zé sempre admirou o alemão Karl Marx, mas nunca esqueceu uma “premonição” de seu adversário russo  Bakunin. Três vezes o operário LULA se candidatou à presidente, mas, como sempre, o Zé votou em branco. Hay gobierno?  Soy contra!

BACUNIN

COMPADRIO

Enquanto gente chegada ao Zé Geraldo se exilava temendo a “contaminação” que o amigo representava, se esgueirando como pode ele voltou do  Uruguai para se “enrustir” na serra de Teresópolis. Mas quando foi enquadrado pelo regime militar, valeu-se dos parentes: Tio marechal João Segadas Viana – que afinal intercedeu pelo sobrinho -, e do primo Humberto Barreto, então presidente da Caixa Econômica – “irmão siamês” do ditador presidente general Geysel. Contou também com duas figuras respeitadas junto ao regime militar. Roberto Taborda, coronel da reserva da aeronáutica, que gerenciando as lojas da fábrica VIVENDA do Zé no Rio protegeu seu “anonimato” em Teresópolis. “Expert” em arte e decoração, Taborda pouco tinha de milico. Também o amigo CACÁ (Carlos Alberto Vieira), do Banco do Brasil, embora apolítico era ligado aos potentados do regime,  e sempre  o protegeu.  O Zé aceitava as “regalias” encabulado.  Embora não acreditasse em política de nenhum governo “constituido”, nem no despreendimento seja lá de que credo for, diante de Lamarca, Maringuela e Geraldão – que conheceu na sua Editora Americana, onde eram impressos tudo que era panfleto “subversivo” – se sentia acovardado, e, também omisso, diante da luta solitária da estilista internacional Zuzu Angel, que em busca do corpo do filho trucidado pelos beleguins da ditadura, lutou até ser morta num acidente forjado.  Nem sempre o DOPS e órgãos de repressão dos anos de chumbo foram eficientes. Depois de ter o Zé Geraldo transitado pela fronteira uruguaia para visitar Brizola, o deputado Paulo Ribeiro, seu sócio na Editora Americana, aliviou sua barra: quando presidente de importante órgão de governo antes de 64, ele teve como funcionário um delegado de polícia – o Zé não lembra se o nome  era  Denizar ou Belizário – que  enrustiu sua “fixa” no DOPS. Depois, quando interrogado no IPM do ISEB, queriam saber dos quadrinhos subversivos com a figura cafuza do Tiradentes na capa, mas sequer seu contato com Brizola em Atlântida foi questionado. No entanto, por causa de um seu bilhete encontrado com seu amigo Lélio, presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool no governo JANGO, Zé Geraldo foi detido,  espancado, e severamente interrogado. Mas até hoje não sabe o que tinha escrito no maldito bilhete.

Embora sem saber, Apressado Pra Nada – título deste blog – é o mesmo que o Millôr Fernandes deu para o último livro do Zé.  Originalmente ele seria Um Zé de Copacabana, mas o próprio Millôr criticou, e o Ziraldo opinou que deveria ser ”O Charlie Chan” de Copacabana. Mesmo sendo uma biografia,  o livro   não apresentou dados biográficos completos ao alcance da pesquisa, falha que a USINA DE LETRAS na internet, A GUERRA DOS GIBIS de Gonçalo Junior, e artigos do jornalista Mário de Moraes, repararam com minúcias. [/caption.

Respostas

  1. Olá, meu nome é Joana, estou produzindo um documentário sobre Hélio Gracie e gostaría de entrar em contato com Zé Geraldo.

    O docuementário está sendo produzido pela Produtora Mixer, para o History Channel.

    Seguem meus contatos:
    pesquisadora4@mixer.com.br
    11-3046-7980.

    Atenciosamente,
    Joana Horta

    • Desculpe atrazo na resposta. A equipe MIXER já gravou comigo para o Históry Channel a respeito do jiu-jitsu (GRACIE) brasileiro. Corrigindo a injustiça, não existe outro. abraço do Zé.


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